sábado, 23 de agosto de 2014

Os dias e as cores


amarela a cor que somei
desbota todos os dias

amarela a cor dos sonhos
dos dentes das farpas das fotografias

amarela o jornal quando exala o suor
das mesmas notícias

amarela o tempo, a têmpora muda
o carrasco que [a]trai e destrói

amarela o que não se aprende
o que não pulsa
o que aparentemente gira

Lou Vilela




sábado, 16 de agosto de 2014

Tormenta


conheci teu [a]mar, tua calmaria
teus altos [des]montes,
tua muda estação

tua boca, teus olhos, meus anseios
tua fala, tua foda, nosso óbvio
tesão

cometi o que não deu
abismo in confesso
pra reter

Lou Vilela

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Numa noite sem mesuras

pousava diante do fogo, insistia 
buscava  aquela sensação
sentir na garganta o travo  ranhura
mais um gole-poema

tudo que é belo perpassa – infinito
viola a tez, o silêncio
jorra! entre a razão e o peito

Lou Vilela

sábado, 2 de agosto de 2014

Olhos arrebatados pelo vento

hoje, choro o meu cansaço
exponho a ferrugem dos meus dentes
acendo um cigarro imaginário
posso, desde que integre o tempo

escapa-me a noção de ser-espaço
onde começo, onde termino
onde refaço-me
olhos arrebatados pelo vento

planto a minha aorta em apartamento
cubículos urbanos, somos guetos
estreitos, os corredores vão fechando
funil, filtros d’águas e folguedos

mas, se porventura, souber princípio
decerto toda graça escoará
por entre dedos, os nossos, nalgum lugar
elástico, universal, capitular


Lou Vilela