domingo, 30 de maio de 2010

Réquiem

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Para Letícia, in memoriam.

Algo em mim

(de)compõe...
varro poeira de outrora.

Reemposso grilhões

afundados,
pavilhão da memória.

Novos sujeitos

velhos quinhões:
malabares,
saliva, retina
e ela...
, assaz sina.

Lou Vilela

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sábado, 29 de maio de 2010

Além da razão

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Muitos me devotam fidelidade
ignoram a realidade
apagam os rastros (ex passos)
afugentam-se em meus braços.

Sou aquela linda donzela
incompreendida, bela
que eclode em desejos inconfessos
que vive em risos manifestos.

Não queiram a mim, controlar
dispo-me em qualquer lugar
sou arredia
não respeito hora, dia.

Meus amantes, com um brilho no olhar
penetram-me as entranhas a delirar
gozam com o falo na clausura
gemendo: - te amo, loucura!

Lou Vilela

* Publicado originalmente em dez/08. Na época estava lendo "Elogio da Loucura", de Erasmo de Rotterdam.
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Vício

Dedos umedecidos
em saliva espessa
tatuam o prazer
de ler(-te).

Lou Vilela


* Publicado originalmente em fev/09.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O escultor

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Para André


Da abstração do desejo
brotou sua obra de arte
o côncavo e o convexo
em perfeito encaixe

No ápice da criação
a trama delineada
deu aos corpos colados
o movimento das ondas

Em seu delírio passional
levou ao gozo os amantes
imortalizados por suas mãos
numa escultura viva


Lou Vilela


* Texto republicado.
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quinta-feira, 27 de maio de 2010

Tinto e Blanc

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Tinto

Em minha taça,
você...
vermelho rubi
degustado gota a gota
numa sede insaciável

Lou Vilela
07/08/08
Blanc

Em outra taça
transparência por vezes
regras transbordadas
temperatura perfeitamente "inapropriada": quente!

K. Amorim
10/07/09


* Crônicas e contos em histórias (re)inventadas.

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quarta-feira, 26 de maio de 2010

O grande espetáculo

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Nos interstícios de dor
descortina-se em silêncio.

Faz uma prece e encena novos atos.


Lou Vilela





 
* O Moacy Cirne levou um de meus labirintos para o seu "Balaio Porreta 1986" - edição no. 2831, de 3 de novembro de 2009. Quem desejar conhecer o espaço é só clicar aqui.

** Texto republicado.


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Escalas e estações

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a escala(da) poética
consome estações

primaveras de cruzar caminhos
verões de calores desnudados
outonos despetalados
invernos a só(i)s congelados

nada mais nada menos
quer portas abertas
de invadir frias pernas
aquecê-las para saltos abissais

a poesia em dó
tem feito estragos
estômago às avessas
após náusea
pedaços pelo caminho
restos de comida indigesta


Lou Vilela



* Caí no Balaio Porreta de hoje, 22/02/10. Quem ainda não conhece o espaço do mestre Moacy, é só clicar aqui

** Texto republicado.


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Transitório

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*  Texto republicado.
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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Hoje é dia de Maria

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Meus caros, 

Hoje estou no Maria Clara: simplesmente poesia. É só clicar aqui para ler.

Um grande abraço,
Lou
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sábado, 22 de maio de 2010

Grito

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Em minha impotência
verto-me risco
traçado à margem
da tolerância
com as bocas vazias.
 

De um poço sem fundo grito,
mu(n)do de fome!

Lou Vilela


* Texto republicado. Abaixo, mais dois poemas que versam sobre temática social.
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Um brado retumbante

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No perdido olhar natimorto,
desfalece o sonho fugaz:
teto, alimento, labor,
respeito, dignidade, paz...

Jaz ali a esperança
de quem lutou pela vida.
De si, só resta o borrão
manchado com lágrima curtida.

Aconchega-se na escuridão das ruas,
cobre-se com a flâmula ignorada.
Heróico: sequer, teme a própria morte
na (de)vastidão da terra amada.

Lou Vilela


* Texto republicado.
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Escrito na cara

Nordestino
Foto: Stefano S. Martini



Os sulcos na face
em desarmonia
indicam o caminho
do rio que secou.

A cara amassada
reflete o poema
escrito na lida
impresso na dor.

Aplausos, poeta!
sua obra de arte
merece destaque
de grande escritor.

Estampada nos livros
das caras passadas
faria chover
no rio que secou?

Lou Vilela



* Texto reeditado.
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quarta-feira, 19 de maio de 2010

"Depois de horas"

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Para Nydia Bonetti e Lou Vilela.

Agora me atravesso...
Ponte para o horizonte,
Ponte para estar longe,
... Ponte pra mais além.

Agora me desperto
Para o verso - que medo!
Para o tempo - que tédio!
Para a vida - que dor!

Há silêncios revoltos
Em tudo: eis a minh'alma
A temer o papel
Em branco, mundos, lápis.

Adriano Nunes




Homenagem recebida do médico e poeta Adriano Nunes. Conheçam um pouco mais de seu rico trabalho em "QUEFAÇOCOMOQUENÃOFAÇO".


Adriano, senti-me extremamente lisonjeada ao ver meu nome associado a um poema seu - e ao ladinho da Nydia Bonetti, poeta que tanto admiro! Obrigada!
 .

Exibicionista

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nossa poesia inacabada
copula versos infindos
aqui acolá por entre gentes
gozando aos olhos alheios
num frenesi de dedos

Lou Vilela



* Texto republicado.
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terça-feira, 18 de maio de 2010

A dor do poeta


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O desavisado poeta
quis escrever
sua poesia mais bela.

Lembrou dos jardins
da lua, do sol,
do mar, do amor.

Em vão o poeta
quis escrever
sua poesia mais bela.

Os motes lembrados
não inspiraram
o poeta a compor.

Vagou sem destino
a buscar pelas ruas
sua poesia mais bela,

até que um dia
encontrou no caminho
sua amiga, a dor.

O desavisado poeta
percebeu de repente:
não basta querer.

Com a dor que o afligia
quis escrever,
pariu sua cria.

Agora carrega
impressa na alma
sua poesia mais bela

Lou Vilela


* Texto republicado.
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segunda-feira, 17 de maio de 2010

Outra vez

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provocas
com um roçar de língua
que me invade a boca

e no contrapasso
desta dança onírica
outra vez desperto
salivando saudades.



Lou Vilela


* Texto reeditado.



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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Ausência

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Sob a luz das candeias
inclina-se a cítara e chora:
resta-lhe o acorde notívago
transfigurado em versos.

Lou Vilela
Em 15/04/09




Tela Blue Nude by Pablo Picasso.



** Texto republicado.







Vazio

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Tela: Amantes by Nicoletta Tomas Caravia




A mesa posta o choro da vela
um cheiro almiscarado
dois corpos ladeados
lençóis em desalinho:

lembranças que destoam daquele lugar vazio.

Saudades da paixão que gotejava sobre o telhado
escorria pela bica fertilizava a terra.

Mãos tombam sobre a mesa, impotentes.
Abraçam-se os dedos:

“Seja feita a Sua vontade”...



Lou Vilela
Em 11/04/09


* Texto republicado.

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Desassossego

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Para  Ana Maria Veloso*




Eva by Francis Picabia




Adormeceu na presença
de velhos fantasmas.


O açoite dos pensamentos
fez o corpo em flagelo
exalar o cheiro putrefato:


entre a flor e o falo
o inquietante amanhã
e as horas que se acumulam
como o lodo sobre as pedras.

O medo nunca foi proteção!



Lou Vilela
Em 20/04/09



* Ana Maria Veloso é jornalista, empreendedora social Ashoka - organização mundial sem fins lucrativos, pioneira no trabalho e apoio aos empreendedores sociais -, doutoranda em comunicação pela UFPE, professora da Universidade Católica de Pernambuco. Em sua militância na área social registram-se ainda passagens pelos Fórum de Mulheres de Pernambuco, Fórum Pernambucano de Comunicação, Coletivo Intervozes de Comunicadores(as) Sociais, Sinos - Organização para o Desenvolvimento da Comunicação, dentre outras entidades e movimentos sociais (biografia gentilmente cedida pela jornalista).

**  Texto republicado.

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terça-feira, 11 de maio de 2010

Ins.piração


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Em intertextualidade ao poema"Arre Égua", de Nina Rizzi. 

O texto está sendo republicado para homenagear à 500a 
edição do blog ellenismos, pilotado por essa talentosa poetisa.


Para Nina Rizzi

Ela trans.pira
selvagem sol a pino
animal de quatro.

Seu poema,
o gozo de um corcel:
vitalidade e visgo.


Lou Vilela
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** Este poema "caiu" no Balaio Porreta 1986 - no. 2778, de 09/09/09.
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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Apenas, uma pena

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pena
meu povo pena
na chuva escassa
lágrimas cascatas
brotos murchos de
verde esperança

pena
em minhas mãos
apenas, uma pena
ausência de pés no chão
e calos de enxada


Lou Vilela



Vídeo: Poema de Joao Cabral de Melo Neto, musicado por Chico Buarque.


* Poema republicado.

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sábado, 8 de maio de 2010

Do canto à saudade

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Fez da escala(da) fugaz
Regaço fecundo:
Ali(nha)mento e cio de
Corpoema inacabado.

Lou Vilela



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"Electric Violin Beethoven's 5th Symphony techno remix arranged and played by Sarah Moir"

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Contralto bordô

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À Tarcimá


Uma voz de contralto
apesar dos percalços
colocou-nos em cena
direcionou-nos os passos
não desafinou

Embalou-nos no pranto
uniu-nos em riso
abraçou-nos em laço
em momentos de siso
sempre ecoou

Por nossos ouvidos
a voz reverbera
à alma acalenta
espanta quimeras
embevece com amor

Hoje, mães,
cumprimos a sina
propagamos as notas
desde o útero, ouvidas
um contralto bordô

Lou Vilela



(*) texto republicado

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Desejo a todos, mães e filhos, um maravilhoso domingo!

Um grande abraço,
Lou


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terça-feira, 4 de maio de 2010

Azulão, o canto do pássaro

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Miguel Gilbert.2007 - Museu de Bilbao.Espanha


Entre almas penadas
vaguei, arrastando correntes...
O verbo, canto solene,
a pena, meu instrumento.

Ouvi lamento do cárcere,
gemidos ao bailar do vento,
o grito abafado no açoite,
o ódio rangendo nos dentes.

A mistura rubro-negra
do sangue correndo na carne
coroou a tese racista
que impôs a barbárie.

Na imensa capilaridade da ignorância
- apesar das leis outorgadas -
perpetua-se mensagens subliminares,
reforça-se a discriminação velada.

Lou Vilela



* Texto republicado.
** Azulão: pássaro.
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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sedução

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desabrocha a rosa
orvalhada
oferece o néctar
ao hábil beija-flor

Lou Vilela


* Poema republicado.
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sábado, 1 de maio de 2010

Imaginário

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Dancing Trees - Igor Zenin
Clique na imagem para ampliar.

* Republicado.
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