quarta-feira, 31 de março de 2010

Cabralina


Salvador Dalí - Galatéia das Esferas


W. H. Auden
(1905-1973)

Se morre da morte que ela quer.
É ela que escolhe seu estilo,
sem cogitar se a coisa que mata
rima com sua morte ou faz sentido.
Mas ela certo te respeitava,
de muito ler reler teus livros,
pois matou-te com a guilhotina,
fuzil limpo, do ataque cardíaco.

(João Cabral de Melo Neto)



Entre mim e ela

A morte mata do que ela quer.
Mas tentarei convencê-la:
chegar consciente, partir sonhando
flutuando em travesseiro.
Aspirar, por via das dúvidas,
poesia e cheiro
de um tudo que aqui vivi.
Ser queimada, virar cinzas
espalmada à toda sorte.
Seguir passarinho:
[só sucumbir à morte]
sumir em revoada.

(Lou Vilela)

segunda-feira, 29 de março de 2010

Poema acidental

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De grão em grão
engolia o pão
(amassado)
dos desvalidos:
ruminava sonhos.

Esperava tanto, tudo:
soube o tempo esperado
surdo-mudo.

Desfez-se à voçoroca.*
Tão deformado sentiu-se,
tão deformado ficou:
dentro e fora, enfim, aquilo
que o tempo(?) sonegou.

Lou Vilela


* “Fenômeno geológico que consiste na formação de grandes buracos de erosão”.  

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Mais um dia de poesia

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Publiquei um poema inédito no blog 'Maria Clara: simplesmente poesia'. Quem quiser conferir, é só clicar aqui.

Beijos,
Lou
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sábado, 27 de março de 2010

Assentimento

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Salivares urgências
sucumbem à posse
ardilosa, lenta
- latifúndio.
)Entre lábios(
a ponta invertebrada
que explora, escraviza.

Lou Vilela





* Para os pequenos-grandes-seres, um poema inédito bem aqui.

** Já para os grandinhos que gostam de crônica, outro texto,  aqui.

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quinta-feira, 25 de março de 2010

Náusea

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* Poema republicado.
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Pés

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*Poema republicado.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Desafio



Respondendo ao desafio proposto pelo querido poeta e amigo Assis Freitas, do “mil e um poemas”:

  
4 lugares onde comprar:

[citarei na região metropolitana do Recife]


1. Casa da cultura: antiga casa de detenção transformada em centro da arte popular pernambucana.

2. Livraria cultura: bom para prosear, tomar café, assistir eventos...

3. Shopping Paço Alfândega: já foi convento e alfândega; possui uma arquitetura espetacular. Os preços não são tão convidativos, mas o local é imperdível.

4. Mercado de São José: antigo edifício pré-fabricado em ferro importado da Europa. Projeto do engenheiro Lieuthier, inspirado no Mercado de Grenelle, Paris. Lá encontrarão comidas regionais, artesanato, cordéis, produtos para cultos afro-brasileiros, dentre outros.

4 cheiros:


1. de terra molhada;

2. de especiarias;
3. de maresia;
4. de amor.

4 coisas que me fazem sorrir:


1. sorrisos largos;

2. banho de chuva;
3. escrever;
4. amar;
...e desafios. rsrs

4 blogues a desafiar:


1. HF diante do espelho (Hercília)
;
2. Meu lampejo (Mirse);
3. Encantaventos (Wania);
4. Teatro da Vida (Lara).


* Pena que só pude citar 4 blogs amigos... entretanto, quem quiser participar, sinta-se convidado. rsrs


Beijos a todos,
Lou







segunda-feira, 22 de março de 2010

Olhos de chuva

Clique na imagem para ampliar

* Poema republicado.
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domingo, 21 de março de 2010

Histórias (re)inventadas


Meus caros,

Após ponderar alguns fatores, decidi criar um blog experimental para abrigar contos de minha autoria. Convido aqueles que gostam desse gênero literário para conhecer o histórias (re)inventadas.

Haja vista a escassez de tempo, aviso aos navegantes que a frequência de publicação será baixa e os dias de postagens, aleatórios .

Abraços a todos!
Lou Vilela

sábado, 20 de março de 2010

Sangria

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* Publicado aqui em 04/05/09. Trazendo-o à tona.

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quinta-feira, 18 de março de 2010

Quero passagem!

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Dê licença, seu moço,
quero passagem.
Preciso trabalhar,
tenho mulher e filhos
para sustentar.

Já perdi um par de rebentos
na luta contra a malvada,
não tinha comida, nem doutor,
apenas, a minha enxada.

Quando estou no roçado,
tonteio sem sentidos
[é o sol na moleira
castigando os destemidos]:

vejo uma vida melhor,
no prato, farinha, arroz e feijão,
escola para os que vingaram,
quem sabe até água no chão?;

vejo a Maria sorrindo
com os dentes todos na boca
e a roda da viola mudando
de uma rima para outra.

Quando o sol se vai, seu moço,
e a moleira esfria,
percebo que era, apenas,
mais uma de minhas poesias.

Que vida é essa, seu moço,
nós temos destino traçado?
[morrer de fome ou viver
desesperado?]

O que me entristece, seu moço,
é lutar noite e dia
para ver os filhos crescerem
e herdar do pai sua sina;

o que me entristece, seu moço,
é ter o tal destino traçado
pelas mãos de muita gente
que sequer pegou num roçado.

E ainda falam, seu moço,
que o problema é da região,
pensam que essa história convence
matuto que lida com o chão.

Se esse povo estudado
aprendesse com a gente
a cuidar de sua terra
e a zelar pelos seus...

Se esse povo estudado
aprendesse com a gente
a plantar p’ra colher
e a ter vergonha na cara...

eu botava, seu moço,
um dia, no prato,
farinha, arroz e feijão;

trabalharia satisfeito
com o sol na moleira
e os filhos na escola,

com a minha Maria desdentada
dando gargalhada
para um futuro melhor.


Lou Vilela



* Poema escrito originalmente em março/08. Republicado com pequenas alterações.

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segunda-feira, 15 de março de 2010

Lou Vilela sob a lupa de Hercília Fernandes

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Hercília Fernandes, Poetisa, Professora, Doutoranda e Mestra em Educação, na linha de pesquisa “Cultura e História da Educação” (PPGEd / UFRN) me ofertou um significativo presente por ocasião do meu aniversário: uma análise crítica sobre o trabalho literário que desenvolvo. Senti-me feliz e lisonjeada com tamanho gesto.

HF frequentemente nos brinda com trabalhos de excelente qualidade e, como se não bastasse os diversos ofícios, ainda consegue se dedicar com entusiasmo à revelação de talentos na blogosfera.

Pelo exposto, gostaria de compartilhar com todos os leitores do Nudez Poética mais um trabalho, dentre tantos outros que merecem a nossa admiração, dessa escritora. Passemos à análise de Hercília.


por Hercília Fernandes in Maria Clara: simplesmente poesia.


LOU VILELA, A MENSAGEIRA DO VENTO





Hoje, 14 de março de 2010, é um dia especial para todos aqueles que se dedicam à atividade poética. Para nós, integrantes do Maria Clara: simples mente poesia, o 14 de março contém um sabor memorável, comporta duplamente poèisis: além de ser o "dia nacional da poesia", é a "data natalícia da querida poetisa Lou Vilela".
Lou Vilela, natalense de origem e residente na cidade do Recife-PE, é poetisa de grande sensibilidade imagística e habilidade semântica. Posta, regularmente, poemas e breves textos em prosa em seu espaço virtual Nudez poética, direcionado à acepção literária adulta. E desenvolve, na Blogosfera, um trabalho voltado ao leitor infanto-juvenil, especialmente às crianças, no blog Ritmos e rimas. Vejamos alguns traços de sua poesia.
Uma das qualidades da voz poética de Lou Vilela é a expansão - em versos oníricos, breves e musicais -, de temáticas profundas e ambíguas. A poeta, fazendo da “pena moinho”, anuncia/denuncia a vida das "gentes esquecidas” espalhadas à margem do tecido social. Nordestinos, mulheres, crianças são protagonistas em seus versos, oferece voz a grupos considerados “minorias”; muitas vezes expostos a múltiplas violências nas práticas sociais cotidianas.
Essas considerações podem ser apreciadas em os versos de Simbiose e Um conto sem réis. Leiamos os dois poemas:

em terra seca
de ninguém
sou nada

imprescindo d’água
e na face inundada
provo das gentes

meu sertão..., mal cabe na garganta:
as gentes, escorrem-me pelos dedos
(in: Simbiose).


***

Naquele pardieiro
ecos paredes rachadas
de risos de bocas
esfomeadas
vazamentos incontidos
profundo (a)mar
(in: Um conto sem réis).

Os poemas de Lou Vilela, além de profundidade temática, contêm intensidade lírica e apresentam belas imagens femininas associadas a contextualizações, metalinguagens, ambiguidades e sinestesias várias. Onde transbordam, em versos sugestivos e sensuais, frescores que remetem ao atordoamento e, por isso, alagam/alargam sentidos. Sensações que se podem experimentar a partir de os versos de Reflexos:

é esse teu olhar invasivo
que atordoa...

essa tua tatuagem olfativa
que embriaga...

tuas unhas que marcam,
tua saliva que cura.

são os teus trejeitos que ins.piro,
os teus trajetos que invado
entre mentes dentes dedos e falo.

enquanto transbordas
me alago.
(in: Reflexos).

No tocante à poesia infantil, a voz de Lou Vilela desenvolve temas como a dor, a perda e a morte; o cotidiano das crianças com suas brincadeiras, jogos e linguagens; a natureza e a temática animal; além de assuntos pertinentes à vida de um ser em desenvolvimento, como a alimentação.
Por meio do jogo e do ludismo, da imagística, da simplicidade na linguagem, da rima e figuras sonoras, a poetisa expande valores que se apresentam coerentes a um leitor em formação; e convida a criança a adentrar no mundo das letras, da imaginação e a construir conceitos.
Através do sentir/fazer poético, Lou Vilela propõe jogos de linguagem e desafios semânticos que contribuem para inquietar e remeter os leitores à plurissignificação textual, promovendo a construção de sentidos através do desvendar de pistas, combinações, sugestões de signos e imagens.
A sua poesia infantil oferece espaço para a livre significação, o que demonstra o respeito da autora às especificidades e à imaginação da criança; apresentando-lhes temas que, sem imposições moralísticas, portam consistência nos conteúdos de mensagem que, poeticamente, levam à reflexão das coisas existentes na natureza física e social-humana.
Leiamos mais dois poemas de Lou Vilela. Neles, a poetisa sopra belas imagens ligadas à natureza e se apresenta à criança - também ao leitor adulto - como "mensageira do vento"; anunciando a função da poesia e do poeta. E, posteriormente, convida o leitor a pensar a morte e a perda, valores que perpassam a vida humana:



vem pulsar uma viola sob
noite enluarada,
ouvir grilos, vagar lume?

há dias em que até as pedras
cantam poemas: a natureza
explode em exuberância!

e o poeta (in)venta
: faz da pena um moinho.



............................................a Gabriel, in memoriam

O vovô de Iago,
Mateus e Aninha
fechou os olhinhos,
esqueceu a idade:

partiu sem adeus,
sem mochila...
na hora de fazer
traquinagem.

No céu uma estrela
que brilha e acena.
Sorrindo, encena
deixando saudades.



Notas:

[1] Texto escrito por Hercília Fernandes.
[2] Arte: Catavento, de Luciana Teruz (Brasil, 1961).
[3] Poemas extraídos dos blogs da autora: Nudez poética e Ritmos e rimas.
[4] Foto: Lou Vilela.
[5] Texto revisitado em 16 de março de 2010.





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sábado, 13 de março de 2010

Prelúdio para a salvação

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Ando em tempos de sóis,
de chuvas, de ‘nós’...

Do apelo em pelo,
do escrachado verbo,
das bocas vazias.

Da capilaridade democrática,
de uma urgência diabética,
da ignorância expressa,
de abundante escassez

[falta amor, empatia, respeito...
falta prece! ao menos aquela que tece
deveres, direitos - o que manda a lei?].

Queremos mais!

Algo que invoque, provoque, ilumine,
perpetue-se... [encontre-o conforme queira]
- em última instância, um quê de salvação!  

Quiçá a poesia inaugurada dia a dia
no crepúsculo, na aurora, no discurso,
aqui e ali, nas inter-relações?!

Merecemos mais!


Lou Vilela


 




Um brinde, desde já, a 14 de março, Dia Nacional da Poesia!  E - olha que coisa - dia do meu aniversário!  ;)





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Hoje tem...

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"Nós" no Balaio! É só clicar aqui.

Beijos,
Lou

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quinta-feira, 11 de março de 2010

Jogo de malabares

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sou a mulher da tua vida
ignora a falta de gentileza
a que pariu quatro filhos
ainda serve à mesa
e também compra o pão
jornada tripla,’mermão’

sou a tua amada
puta ‘saco-de-pancada’
alimento ao teu prazer
à disposição na hora de comer
lubrificada, só a retina

o café fumegante revigora
perdi a hora
corta a náusea matinal
cadê a porra do jornal?
Mais um dia começa!
mulher, que cara é essa?


Lou Vilela



NOTA:

A violência contra as mulheres “é transversal e existente em todas as classes sociais, diferentes culturas, religiões e situações geopolíticas”.  No blog marcha mundial das mulheres, você poderá encontrar uma artigo sobre esse tema. É só clicar aqui.

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quarta-feira, 10 de março de 2010

Maria Clara: uniVersos femininos



Uma página na historiografia das mulheres



Por que a ciência nos é inútil?
Porque somos excluídas dos encargos públicos.
E por que somos excluídas dos cargos públicos?
Porque não temos ciência.
Nísia Floresta.

No meio literário e acadêmico muito se discute sobre a existência de um eu-lírico feminino, particularmente na poesia... 


Hercília Fernandes in  novidades & velharias.



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Passem lá para saber as boas novas! 

Abraços a todos,
Lou


segunda-feira, 8 de março de 2010

Poema faminto

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teu hálito é mar de sargaços: 
quente, viscoso, salgado... 
envolve, invade e abocanha 
- um poema faminto.

Lou Vilela


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domingo, 7 de março de 2010

Equipoéticos

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-->
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essas mil vidas, estas mil noites
às vezes se igualam: são maculadas
gozadas no vão do tempo.

Lou Vilela


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sábado, 6 de março de 2010

Hoje tem

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Caros amigos,

Postei no  Ritmos e Rimas um texto inédito para os pequenos-grandes-seres. 

Ainda, republiquei dois textos hoje: um deles, um poema visual, encontra-se no blog "O Gato da Odete"; o outro, logo abaixo.


Um grande abraço a todos,

Lou
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Leitura em Braille

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Esteta

Cega-me a beleza
em seu esplendor.
Toca-me a alma!


Amor solitário,

sussurros...
interpreta-se em
dedos úmidos.


Exegese

Seus lábios dizem não;
na mente, indecisão:
um enigma em meus dedos.


Lou Vilela




* Texto republicado (postado inicialmente em 25/09/08).

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quinta-feira, 4 de março de 2010

Tambores de Santana


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Ao poeta Assis Freitas

concebeu-se poesia para tocar
a pele do olho que observa;
tímpanos, para operar
milagre das asas.

(Lou Vilela)

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NOTAS:

1 - No poema "Tambores de Santana", homenageio a sensibilidade do poeta Assis Freitas (natural de Feira de Santana - BA); formalizo, também, os meus agradecimentos  pelo poema "Quem disse que não és pássaro?" que me foi dedicado.

2 - "Tambor é o nome genérico atribuído a vários instrumentos musicais do tipo membranofone, consistindo de uma membrana esticada percutida".
 
3 - "Os tímpanos (sempre no plural por serem tradicionalmente tocados com um mínimo de dois tambores) são um instrumento musical de percussão".
 
 

terça-feira, 2 de março de 2010

Rupestre II

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nas escavações de paredes
éramos as alegorias:
restaurados caminhos.

Lou Vilela





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segunda-feira, 1 de março de 2010

Hoje tem

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Caros amigos e leitores,

Hoje tem poema meu no Maria Clara: simplesmente poesia. Para ler, é só clicar aqui

Logo abaixo, um texto inédito.



Um grande abraço a todos,

Lou

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