domingo, 28 de fevereiro de 2010

A favor do vento


Trago nas unhas terra vermelha
de (en)costas nuas.
Quiçá, pontos de interrogação -
clarividência escassa frente à multidão
(de sentidos).

Trago, ainda, uma mala:
cheiros, sabores, solas gastas;
algumas ilusões fanadas,
lentes de madrigais.

Deixo lençóis de cambraia rendada,
as certezas todas amassadas,
bilhete em letras garrafais:

Seguirei os ponteiros da aurora -
vou a favor do vento, no tempo
de irrigar ser.tão.


Lou Vilela


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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Voyeur

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Voyeur and Exhibitionist, 2007 - Oil Painting 



janelas instigam...
a lua observa, devora
corpos se eclipsam

Lou Vilela




quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Desafinado II

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Ouçam um "rouxinol" pernambucano ;), 
É só clicar na imagem.




ainda canto e desafino
[o tempo dosará im.pulsos]
ao pé de ouvidos surdos
ora jazz, ora blues... ora porra!
por que não nasci rouxinol? 

Lou Vilela


* O poeta Assis Freitas dialogou com este poema. Clique aqui para encantar-se.


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O som dos becos

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A lua invade, obscena.
Corpos dançam esquinas iluminados
por fachadas de néon. Serão tragados
à voracidade dos segundos.

Trôpegos passos tintos misturam-se 

aos ratos - exalam chorume. 
O quadro realista instila acidez, 
cospe a mão que o pintou.

Na sacada, mãos e vozes se abafam em comunhão
com olhos surdos. Aguardam a chuva cair, lavar
as calçadas antes do amanhecer. Seus bueiros
engolirão os notívagos acordes.

Lou Vilela


 
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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Galope de aninhar

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esse transbordamento
de entrelinhas faz crer:
ficções mal digeridas
abrem fissuras, feridas.

emito sons galopantes
de encurtar distâncias:
é tempo de regurgitar
e alimentar passarinho.

Lou Vilela

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domingo, 21 de fevereiro de 2010

Dos quereres

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Quero a pele eriçada
- a que [ar]risco.

Lou Vilela




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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Início e fim

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no fim, lembro-me:
inícios me [co]movem.
aí, tudo faz sentido!

Lou Vilela




* Caiu no Balaio Porreta em 22/02/10.






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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Impera dor


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O prato negado aumentou sua fome
: do lixo, fez-se o homem.

Negro, pobre, determinado
driblou por instantes
destino fadado.

Breve filme!

Na morte do Imperador
mãe veste branco jaleco
- jaz o filho "doutor".


Lou Vilela


  
* Alcides do Nascimento Lins (codinome Imperador), de 22 anos, ganhou a mídia nacional. O estudante nasceu em uma comunidade pobre e fazia o curso de biomedicina da UFPE. Filho de uma catadora de lixo, ficou famoso ao tirar o primeiro lugar entre os alunos da rede pública no vestibular 2007 da UFPE. O jovem foi baleado na cabeça em frente a casa onde morava e não resistiu aos ferimentos. Para assistir a reportagem, clique aqui.

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Justiça





Árida área alheia
campo minado.

No meio do caminho tinha uma perna
tinha uma perna no meio do caminho
- e assim, capenga a humanidade.

Lou Vilela


* Texto republicado.

 
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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Hoje é dia de Maria

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Pessoal,

Hoje tem poema meu no "Maria Clara: simplesmente poesia". É só clicar AQUI.

Beijos,
Lou
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